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sábado, 23 de junho de 2012

Se é que existe verdade.





Não me fiz dono da verdade, antes ouvi e aderi a toda espécie de ideologia e opinião.
Montei um mosaico de poucas verdades e eram verdades corriqueiras, transmutáveis e metamórficas.
Verdades que outrora seriam grandes mentiras.
Criei meu espaço, universo único em que o "não sei" é a resposta ideal.
Não me fiz de uma única opinião formada, aceitável ou odiável.
Observei e transcorri opiniões descartáveis, achei que a diplomacia era um calmante natural, nada de pedras jogadas em minha direção (grande erro).
Não recorri a grandes filósofos, nem a cientistas brilhantes com cálculos exatos e de suas perguntas irrespondíveis.
Deixei que a influência invadisse, experimentei dos venenos aos doces e abdiquei de conclusões decisivas, fui aquele clichê "barco-ao-mar".
Não julguei, mas não por ter medo de ser julgado, não julguei por entender das particularidades que a cada mania, loucura, psicose ou paranoia peculiar caberiam.
Mas agora, Bárbara aponta-me por aqui, nesta rua que passo todos os dias, um punho cerrado.
Entre os dedos, guarda em minha direção as mais duras palavras.
Eu percebo a garganta amarrada e inquieta, como uma lança, pronta a traspassar o meu estomago.
Algo que por estes dias, dissolveu meus olhares interessados no movimento dos seus vermelhinhos lábios ao falar.
E quando atravesso pela esquina sinto um peso enorme.
É incrivel como tudo se transpoe acima do corpo, talvez reflexo das suas nítidas conclusões, tão precipitadas, são pequenos coitos interrompidos, ejaculações precoces.
E então ofende por aqui uma maldita indigestão.
A ideia fixa, a palavra dita, a arma apontada, a porrada segura, o tapa desinteressado.
O cuspe gratuito.
E o olhar de canto, tão reprovativo.
Aniquilador.




domingo, 17 de junho de 2012

O desastre causado em função de um nó mal feito


Encapsulada por pequenos desgostos e afim de solucionar problemas sem solução, estive disposta a dissolver-me em soberba, abraçar o egoísmo e aniquilar certas amarras.

Deparei-me com a proposta de libertar-me. Li o velho Buk, era o companheiro de sempre dentro do meu pessimismo, cheguei no trecho do Pássaro Azul e entendi perfeitamente a sua mensagem.
A partir de então, desconstruí todas as coisas pelas quais agregava algum tipo de valor, olhei-me no espelho e não via nada além da imagem, toquei no reflexo, eram olhos nos olhos, e disse "foda-se", a imagem me dizia que não, quase que me implorando, mas eu lhe repetia "foda-se". Virei de costas, tomei coragem (ou seria um medo excessivo?) e  dei início a preparação de um perigoso ritual.

Lembrei que na área de serviço havia uma corda, era firme e aguentaria meu peso. Ainda bem que minha avó me ensinou a dar nós, medi o pescoço a saber se caberia e se ainda me sobraria espaço para pendurar. Olhei ao redor do quarto e escolhi um ponto especifico no teto para amarrar. Era próximo a janela, o local onde ficam as cortinas. Precisava de um tamborete ou um banco para chutar no momento final. Provavelmente pela altura, imagino que seria asfixiada. O que pra mim era vantajoso. Não gostaria de um osso quebrado, principalmente se tratando do meu pescoço, também me parecia romântico sentir pulsar a artéria, o sangue pediria passagem, a vida forçaria a entrada e a morte trancaria cadeados faria o corpo pesar, a corda apertar e olhos fecharem. Não haveria oportunidade para hesitar. Era uma única vez.

Então fiz o nó, pendurei, subi no banco, enfiei a cabeça e fiquei contemplando o espaço vazio das paredes do quarto, era a ultima cena que guardaria na memória e a mesma deixaria de existir em pouco tempo.

A parede cor de gelo convidava-me a perceber as silhuetas dos objetos ao redor. Havia uma simpática sombra vinda do guarda-roupa, era projetada por um ponto de luz que me invadia pela fresta da janela. Olhei pela fresta, a rua estava infestada, eram carros, pessoas, animais domésticos abandonados, outros com seus donos trazidos entre coleirinhas estilosas. Das janelas das casas, acendiam a luz, era fim de tarde, num limiar entre dia e noite, enquanto no meu quarto não havia tempo, a escuridão criava seu império, os demônios pessoais gritavam. As paredes dos vizinhos ficaram transparentes, entendia as conversas de tios e tias combinando passeios de domingo, pais e mães discutindo relações inconsistentes, filhos choramingando por doces na mesa ou por roupas da moda. Aquilo me deu náusea.
Chutei o banco com violência, mas o nó da corda era mais frágil que a minha personalidade, no primeiro pulsar de artérias, no primeiro gesto de arrependimento e da sacudida do corpo em função do asfixiamento ele desatou e caí no chão.

Quebrei o tornozelo e a dobra do pulso da mão direita, aniquilei meus principais carrascos, companheiros decisivos de todo o ritual. Chorei pela dor. O inchaço se formava entre a articulação do pulso.  Era o corpo ressentido, depreciado, fazendo justiça as minhas decisões, dando passagem ao sangue, deixando livre o caminho da vida. A morte sairia pela janela, destrancando cadeados, não havia o que pesar o nó estava desfeito.

Sem ter quem acusar e ajuda para recorrer. Sentindo a humilhação do castigo recebido.
Gritei na esperança de contestar, "vovó a culpa é toda SUA!"



terça-feira, 5 de junho de 2012

Arte prática / arte teoria






Arte prática,
Arte teoria,
Arte em vida, poesia
Divina criação consciente.
O que o demente não entende
É que o mundo é maior que seu nariz.
Sua falta de coerência
Em dizer o que é arte e o que é não

Digo uma palavra:
L-I-B-E-R-T-A-Ç-Ã-O-!

Sei que sinto e sinto muito
Não conto os livros que já li.
Sinto dó do que se contorce
Por nem ao menos se sentir.




Extraído de " O incendiário"
de um dos meus incendiários preferidos (não vou dizer o nome pra não me emocionar de saudades).





domingo, 3 de junho de 2012

Está a seu modo, senhor?


levantou da cama sem dizer uma palavra, procurava suas roupas e o cigarro que apagou sozinho.
estava ali pela minha disponibilidade de tempo, de paciência, de liberdade e comigo não havia negação, seja como seja, seja o que quiser ser. eu dava sexo sem compromisso e gozava com ele olhando nos olhos, ofegante, "como manda o figurino".
observo o esboço de um sorriso sarcástico no seu rosto.
tenho uma boa leitura de expressões, sei que me toma como louca pelo jeito que me reporta o olhar, disse-me um dia desses para que me comportasse, nem fiz caso, não faço caso a "caretagens".

havia momentos que eu representava seu maior troféu, aceitava com resignaçao a brutalidade das suas palavras, aos tapas no rosto, lambia-lhe até a alma se me mandasse e jamais negava meus joelhos ao chão. mesmo sabendo do sêmen que escorreria pelo meu colo_é o tipo de secreção que eu mais odeio, por isso me agradam as mulheres, não pedem pra esporrar na cara e é doce a lubrificação.
depois ele mudava de opinião e me fazia seu maior monstro, seu grande trauma, "a menina que o fez broxar", mais uma caretagem "jorgeniana" da qual nao faço caso.

tínhamos amarras fortes, enfraquecidas por mim. alguns anos atrás eu era apaixonada e ele fazia justiça a esse sentimento com gentileza. hoje as perspectivas mudavam, eu já nao era a menina malcriada de 23, que o mandara tomar no cu várias vezes em função da minha paixão.
ultimamente, me assiste com medo. tem receio de ser atropelado pelas minhas críticas.

para contornar, virou meu "tiozão", conta histórias de quando administrou o puteiro de um agregado da família no interior da Bahia, nos anos 80, conseguiu dar direitos as rameiras, desde carteira assinada (eram cargos fictícios, claro) a pequenas viagens para visitar a família.
damos risadas. fumamos e bebemos vinho a noite toda, ele adora me embriagar, me acha engraçada, talvez eu seja mesmo.
mas tudo termina no trauma, ele é cretino e parece sempre estar relembrando a broxada.
"ei jorge, calma, vc tem uma língua e 10 dedos".
ele deveria saber que são 10 processos fálicos em cooperativismo com a língua que, por sinal, usava muito bem.

olha pra mim e chama de menina, talvez para dar a entender que aprecia a minha
"juventude". eu não me convenço desta falsa pintura, tudo me parece um tipo de autoafirmação, mostrando sua experiencia sobre minha suposta ingenuidade, seria suposta mesmo?

eu, como já disse antes, nem faço caso para estas caretagens.