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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Prisma - A física é clara.

 
de toda poética do mundo que eu possa transmitir, se é que em algum momento me foi dado esta honra. somente saberei falar do que vejo. e nada posso dizer agora. ainda não te vejo. essa prisão sem grades. me sinto empalidecer, nada sei sobre estas coisas, jamais senti isso. é de dar medo. perdi o sono o relógio do corpo, adoeci, sinto febre as 3h da madrugada. ando perambulando em vírus pela casa, um vírus sagaz. um karma de loucura e indecência. é brutalidade e violência do que é querer. o desejo chega a ser insistente, não há cura para males assim.
de repente, vejo a escuridão romper-se. revolução é a luz. te vejo chegar, em sorriso azul. uma calma universal. explode a fortaleza. meu peito é uma festa infinita. uma lua cheia e densa se aproxima e eu agradeço por existirmos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Verbo: Degustar.



Chegamos, eu sentei no sofá e comecei a desmontar a pedrinha para colocar em seda. Ele observando, fitando os olhos em todo o processo, olhos verdes, o sangue circulava pelas pálpebras, são coisas que eu olhava disfarçadamente pra ele não perceber e notar que na verdade eu já estava desenhando as suas partes íntimas há umas boas semanas. Enquanto eu ficava ali, naquela distração, ele se aproximou e sentou no chão de pernas cruzadas, silenciosamente, pôs a mão no meu pé direito, deu pequenos beijos leves, passava os dedos macios pelas dobras do pé, depois trouxe para si o pé esquerdo, fazia um movimento suave, a ponta dos dedos encostava e me causava um certo arrepio, algo que até acalentava, me acalmava e esquentava o corpo. Será que é possível entender isso? Pois bem, eu não sei se é possível entender, mas havendo dúvidas as experiencias relatam boas coisas.

Estávamos presos em algum vazio, talvez medo, julgamentos ou pressões coisas que a rotina da vida comum faz com as pessoas. Mas minha pobre mania de desprendimento veio a tona e naquele momento, eu fiquei nua e transparente, feliz pela atuação do rapaz que passeava com a língua entre os dedos do meu pé. A saliva era quente, uma língua espessa, ele fazia uma cara de vagabundo, como se achasse na sua ação singular a oportunidade de realmente ser um vagabundo.
E eu, que antes estava numa redoma de prisões e medos, me encontro agora um tarefa importante, a escolha de um verbo para isso. E nos resquícios de dissabores do porão da minha memória, uma palavra brilha, como algo valioso que encontramos dentro de uma caixa empoeirada,  de longe acena o verbo DEGUSTAR. E assim era, degustávamos um ao outro, ele começava por meus pés, eu não resistia, quando a boca esquentava e o corpo cedia, eu ia direto ao ponto. As roupas não aguentavam e por si só desabotoavam-se e camuflavam-se entre as sombras, por saber que demoraríamos muito para encontra-las novamente.

E como se não fosse suficiente o prazer do toque e do sabor das línguas no corpo, nos acompanhava uma explosão intensa de mosaicos coloridos, era inexplicável, talvez fosse como estar apaixonado por mais de 27 mil vezes e não haver controle da temperatura no próprio corpo. Haviam proporções astronômicas de diferentes tipos de felicidades, regadas a discussões sobre quem manda, quem obedece, quem apanha e quem bate.

Sem mais nem menos tons azulados invadiam o quarto. Foi quando nos demos conta que o presente, por ser presente nos transportava para lembrar que passados alguns minutos estes instantes não voltariam. Ficaríamos presos pela lembrança e memória. Ele me diz um pouco chateado com a situação "isso tudo vai deixar de existir em algum momento". Eu não soube como contornar para faze-lo sentir-se melhor. Concordei e pensei que a preciosidade das coisas estará nas historias que forem contadas a partir delas e que em algum momento eram feitas para serem perdidas, os movimentos são cíclicos. Me lancei e perdoei tudo que um dia houve de ruim no mundo, aceitei se haveria algo de bom para vir. Sempre haverá, haverá mesmo?

O dia ameaçava aparecer e a luz do sol com ele, nos aconchegamos para dormir. Mas dias claros parecem injustos, o telefone toca, o alarme insiste, as buzinas cutucam, a construção na casa da frente parece egípcia por tantos movimentos. E a vida real nos invade, ainda um pouco tonto, me disse com um ar cansado "desculpa, mas no estado em que estou, não posso atender".





sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sob o olhar das portas


Saltou para fora do criado-mudo e me observou pelo dia todo 

Antes era abrindo e fechando a geladeira, 
"Isso tudo é ansiedade?" perguntava.

Quanto a mim, não encontrava nada de novo, nem especial, nem doce, nem salgado.
Uma garrafa qualquer de uma bebida destilada que não me interessava.
Acho que vou sair pra comprar cerveja. 
Horas depois e eu nem fui. 
Sentei alí no cantinho da cama, folheava desenhos antigos, livretos em que certas frases eu abandonei e não senti falta.
Eu não conseguia encontrar uma razão, mudava de canal, brincava com o botão do controle. 
Apontei pela janela, ela me disse que o viaduto fica incontrolável, o transito é maldito.
"Liz, a sua voz está me irritando, cale a boca, por favor." Eu disse.
Mas não havia nada demais a Tv é tediosa, as pessoas dentro da caixinha são tão estúpidas, quem assiste isso?
"pela madrugada deve passar um filme bom!"

E nada de novo. 
O posto da esquina está aberto, melhor comprar cigarros.
E aqueles olhos expressivos, seguiam o caminho de meus passos, esperou por alguns instantes e disse:
"Até quando a ansiedade vai preencher espaço das coisas que não são? 
Desde quando você encontra as respostas na geladeira, no canal aberto ou nos cigarros?"

"Ah, querida, eu ainda não sei. Suei frio por dezenas de vezes, acabei com as unhas, falei sozinha por noites das quais perdi a conta. 
Me deu febre, tive vergonha de abrir as mãos e enlouqueci. 
Até agora nada".

"Tudo bem, chega e admitir erros assim publicamente, fume quantos cigarros quiser. 
Sua vida e seu pulmão estão me saindo verdadeiros desertos. Até outro dia."

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vampirismo


Assistia da janela prédios acinzentados, 
nas calçadas da esquina esboçavam sorrisos, 
felicidade forçada à angustia, tímida angustia.
Não entendeu nada.

O velho doido da rua perdeu-se em devaneios
"tem gente que te atira pedras, os piores te sugam as energias", gritava. 
Ela pensava sozinha "e que tipo de esmolas tenho pra te dar?" "suor?" "sangue?"
Estamos fazendo "curvas antissociais" naquele insistente. 
"Quem é esse cara?"  
"É o que vende entradas para o teatro, a peça mais chata da semana!"
"O que eu tenho haver com isso?"
"O quê?" 
"Puta que pariu! Eu não acredito! Levaram minha carteira. Mas que porra é essa?"

E aí é sua vez de atirar pedras, segura aquela que te couber nas mãos e vai!
Não precisava entender!  
Achava digno toda essa guerra, é um combate vencido, "vencido ou vendido?".
Negava acusações
Renegava promessas e dizia "não" para vários pedidos,
 "fechamos para balanço, reze para que não caia".

"Cambada de vampiros!".
"Some daqui! Eu não fiz pacto de fidelidade! não preciso disso!" 

Era sua palavra, carne, osso e sangue.
Enquanto vivo, é tudo isso, é tudo meu.

sábado, 23 de junho de 2012

Se é que existe verdade.





Não me fiz dono da verdade, antes ouvi e aderi a toda espécie de ideologia e opinião.
Montei um mosaico de poucas verdades e eram verdades corriqueiras, transmutáveis e metamórficas.
Verdades que outrora seriam grandes mentiras.
Criei meu espaço, universo único em que o "não sei" é a resposta ideal.
Não me fiz de uma única opinião formada, aceitável ou odiável.
Observei e transcorri opiniões descartáveis, achei que a diplomacia era um calmante natural, nada de pedras jogadas em minha direção (grande erro).
Não recorri a grandes filósofos, nem a cientistas brilhantes com cálculos exatos e de suas perguntas irrespondíveis.
Deixei que a influência invadisse, experimentei dos venenos aos doces e abdiquei de conclusões decisivas, fui aquele clichê "barco-ao-mar".
Não julguei, mas não por ter medo de ser julgado, não julguei por entender das particularidades que a cada mania, loucura, psicose ou paranoia peculiar caberiam.
Mas agora, Bárbara aponta-me por aqui, nesta rua que passo todos os dias, um punho cerrado.
Entre os dedos, guarda em minha direção as mais duras palavras.
Eu percebo a garganta amarrada e inquieta, como uma lança, pronta a traspassar o meu estomago.
Algo que por estes dias, dissolveu meus olhares interessados no movimento dos seus vermelhinhos lábios ao falar.
E quando atravesso pela esquina sinto um peso enorme.
É incrivel como tudo se transpoe acima do corpo, talvez reflexo das suas nítidas conclusões, tão precipitadas, são pequenos coitos interrompidos, ejaculações precoces.
E então ofende por aqui uma maldita indigestão.
A ideia fixa, a palavra dita, a arma apontada, a porrada segura, o tapa desinteressado.
O cuspe gratuito.
E o olhar de canto, tão reprovativo.
Aniquilador.




domingo, 17 de junho de 2012

O desastre causado em função de um nó mal feito


Encapsulada por pequenos desgostos e afim de solucionar problemas sem solução, estive disposta a dissolver-me em soberba, abraçar o egoísmo e aniquilar certas amarras.

Deparei-me com a proposta de libertar-me. Li o velho Buk, era o companheiro de sempre dentro do meu pessimismo, cheguei no trecho do Pássaro Azul e entendi perfeitamente a sua mensagem.
A partir de então, desconstruí todas as coisas pelas quais agregava algum tipo de valor, olhei-me no espelho e não via nada além da imagem, toquei no reflexo, eram olhos nos olhos, e disse "foda-se", a imagem me dizia que não, quase que me implorando, mas eu lhe repetia "foda-se". Virei de costas, tomei coragem (ou seria um medo excessivo?) e  dei início a preparação de um perigoso ritual.

Lembrei que na área de serviço havia uma corda, era firme e aguentaria meu peso. Ainda bem que minha avó me ensinou a dar nós, medi o pescoço a saber se caberia e se ainda me sobraria espaço para pendurar. Olhei ao redor do quarto e escolhi um ponto especifico no teto para amarrar. Era próximo a janela, o local onde ficam as cortinas. Precisava de um tamborete ou um banco para chutar no momento final. Provavelmente pela altura, imagino que seria asfixiada. O que pra mim era vantajoso. Não gostaria de um osso quebrado, principalmente se tratando do meu pescoço, também me parecia romântico sentir pulsar a artéria, o sangue pediria passagem, a vida forçaria a entrada e a morte trancaria cadeados faria o corpo pesar, a corda apertar e olhos fecharem. Não haveria oportunidade para hesitar. Era uma única vez.

Então fiz o nó, pendurei, subi no banco, enfiei a cabeça e fiquei contemplando o espaço vazio das paredes do quarto, era a ultima cena que guardaria na memória e a mesma deixaria de existir em pouco tempo.

A parede cor de gelo convidava-me a perceber as silhuetas dos objetos ao redor. Havia uma simpática sombra vinda do guarda-roupa, era projetada por um ponto de luz que me invadia pela fresta da janela. Olhei pela fresta, a rua estava infestada, eram carros, pessoas, animais domésticos abandonados, outros com seus donos trazidos entre coleirinhas estilosas. Das janelas das casas, acendiam a luz, era fim de tarde, num limiar entre dia e noite, enquanto no meu quarto não havia tempo, a escuridão criava seu império, os demônios pessoais gritavam. As paredes dos vizinhos ficaram transparentes, entendia as conversas de tios e tias combinando passeios de domingo, pais e mães discutindo relações inconsistentes, filhos choramingando por doces na mesa ou por roupas da moda. Aquilo me deu náusea.
Chutei o banco com violência, mas o nó da corda era mais frágil que a minha personalidade, no primeiro pulsar de artérias, no primeiro gesto de arrependimento e da sacudida do corpo em função do asfixiamento ele desatou e caí no chão.

Quebrei o tornozelo e a dobra do pulso da mão direita, aniquilei meus principais carrascos, companheiros decisivos de todo o ritual. Chorei pela dor. O inchaço se formava entre a articulação do pulso.  Era o corpo ressentido, depreciado, fazendo justiça as minhas decisões, dando passagem ao sangue, deixando livre o caminho da vida. A morte sairia pela janela, destrancando cadeados, não havia o que pesar o nó estava desfeito.

Sem ter quem acusar e ajuda para recorrer. Sentindo a humilhação do castigo recebido.
Gritei na esperança de contestar, "vovó a culpa é toda SUA!"



terça-feira, 5 de junho de 2012

Arte prática / arte teoria






Arte prática,
Arte teoria,
Arte em vida, poesia
Divina criação consciente.
O que o demente não entende
É que o mundo é maior que seu nariz.
Sua falta de coerência
Em dizer o que é arte e o que é não

Digo uma palavra:
L-I-B-E-R-T-A-Ç-Ã-O-!

Sei que sinto e sinto muito
Não conto os livros que já li.
Sinto dó do que se contorce
Por nem ao menos se sentir.




Extraído de " O incendiário"
de um dos meus incendiários preferidos (não vou dizer o nome pra não me emocionar de saudades).





domingo, 3 de junho de 2012

Está a seu modo, senhor?


levantou da cama sem dizer uma palavra, procurava suas roupas e o cigarro que apagou sozinho.
estava ali pela minha disponibilidade de tempo, de paciência, de liberdade e comigo não havia negação, seja como seja, seja o que quiser ser. eu dava sexo sem compromisso e gozava com ele olhando nos olhos, ofegante, "como manda o figurino".
observo o esboço de um sorriso sarcástico no seu rosto.
tenho uma boa leitura de expressões, sei que me toma como louca pelo jeito que me reporta o olhar, disse-me um dia desses para que me comportasse, nem fiz caso, não faço caso a "caretagens".

havia momentos que eu representava seu maior troféu, aceitava com resignaçao a brutalidade das suas palavras, aos tapas no rosto, lambia-lhe até a alma se me mandasse e jamais negava meus joelhos ao chão. mesmo sabendo do sêmen que escorreria pelo meu colo_é o tipo de secreção que eu mais odeio, por isso me agradam as mulheres, não pedem pra esporrar na cara e é doce a lubrificação.
depois ele mudava de opinião e me fazia seu maior monstro, seu grande trauma, "a menina que o fez broxar", mais uma caretagem "jorgeniana" da qual nao faço caso.

tínhamos amarras fortes, enfraquecidas por mim. alguns anos atrás eu era apaixonada e ele fazia justiça a esse sentimento com gentileza. hoje as perspectivas mudavam, eu já nao era a menina malcriada de 23, que o mandara tomar no cu várias vezes em função da minha paixão.
ultimamente, me assiste com medo. tem receio de ser atropelado pelas minhas críticas.

para contornar, virou meu "tiozão", conta histórias de quando administrou o puteiro de um agregado da família no interior da Bahia, nos anos 80, conseguiu dar direitos as rameiras, desde carteira assinada (eram cargos fictícios, claro) a pequenas viagens para visitar a família.
damos risadas. fumamos e bebemos vinho a noite toda, ele adora me embriagar, me acha engraçada, talvez eu seja mesmo.
mas tudo termina no trauma, ele é cretino e parece sempre estar relembrando a broxada.
"ei jorge, calma, vc tem uma língua e 10 dedos".
ele deveria saber que são 10 processos fálicos em cooperativismo com a língua que, por sinal, usava muito bem.

olha pra mim e chama de menina, talvez para dar a entender que aprecia a minha
"juventude". eu não me convenço desta falsa pintura, tudo me parece um tipo de autoafirmação, mostrando sua experiencia sobre minha suposta ingenuidade, seria suposta mesmo?

eu, como já disse antes, nem faço caso para estas caretagens.




terça-feira, 29 de maio de 2012

Ao acordar, nos dias de hoje.

Foto de Sindri / Performance Fabiano Barros


Abrir os olhos pela manhã já seria um grande esforço. Adiou o despertador umas seis vezes. Para ser mais específico não contei ao certo quantas vezes ela adiou o despertador. Até porque tenho ódio de despertadores, no auge do sonho, no ápice decisivo dos pesadelos, naquele momento de emoção intensa o gongo vem e salva (ou destrói). E nada se pode saber sobre a continuidade da história. Voltando ao despertar desta relapsa donzela e deixando de lado meus dissabores sobre relógios e despertadores, ela acorda num salto desesperador, repetindo, quase como um mantra de autoafirmação “não dependo desta merda de emprego”, algo que lhe faz pensar se isso não é uma defesa contra os olhares reprovativos do chefe, como se estivesse adiantando as falas para lhe arrastar na fuça “enfia seu contrato de trabalho no cu”, ou coisas do tipo. Por fim, ela se convence da necessidade das contas e do aluguel que lhe persegue como uma sombra. Corre como louca, chega na porta do metrô e entra pensando aliviada “foda-se ainda tenho dez minutos de tolerância”. Mas que tolerância? Tolerância para si? Para as pessoas atropelando seus pensamentos? Ou para os rostos entediados observados sobre o reflexo das janelas do trem? Ela suspira, fecha os olhos por dez segundos, decide por os fones de ouvido e apertar o player. A letra da musica dizia assim “estava na desalegria vagando pela cidade, o mormaço da saudade me pegou ao meio dia”. Abriu os olhos e lacrimejou, não havia mormaço para sentir que não fosse respiração dos homens de terno naquele trem lotado, a saudade não tinha hora pra chegar e costumava estender-se por todos os dias. 


segunda-feira, 30 de abril de 2012

O ANÃO DO AÇOUGUE



PARTE I - BARGANHA
"O foda não é a subida. É a queda."
(Jesus)

Ela estava tendo uma espécie de avecê ou algum ataque epilético, sei lá, e aquilo era feio demais. Fiquei ali na cama encolhido olhando horrorizado àquela cena sem saber exatamente o que fazer. Era uma situação nova pra mim. Aquele imenso corpo se tremendo todo. Os olhos arregalados fitando o teto espelhado. E ela era tão gostosa, aquela mulata. Um corpão maravilhoso. Um bundão do caralho e eu nem cheguei a meter nela. Que desperdício! Aquilo ali durou quase meia hora. Quando ela parou de tremer e ficou ali inerte na cama com a cara torta ¬_ lembrando aquele clássico do Exorcista ¬_ achei que tivesse apagado de vez. Toquei com o pé na altura do seu ombro. Nada. Mas não estava morta, não, pois que senti-lhe o corpo ainda quente e um leve respirar. Me levantei e fui ao banheiro urinar. Urinei mais tranquilo. Até aproveitei pra fumar um cigarro. Quando voltei ela estava lá sentada á beira da cama; os cabelos desgrenhados parecendo uma bruxa nocauteada. Os peitões firmes pulados pra fora porque ela havia se livrado apenas da blusa quando sofreu o ataque. “Desculpa, foi mal. É que estou sem tomar meus remédios.” Ela me disse passando a costa da mão no nariz e ajeitando seus cabelos para trás. Passou a travessa e já estava de pé pronta para guerra. Era imensa e gostosa metida naquele jeans apertadíssimo que lhe deixava com um enorme bundão. Passei a tarde inteira desejando aquele bundão atrás daquele jeans apertado. Tinha grana para comer aquele bundão. O dinheiro do meu INSEGURO-DESEMPREGO. Fiquei pensando no que dizer. Ofereci-lhe um cigarro e ela aceitou. “Você me desculpa, mas preciso ir.” “Mas nem transamos.” “Não tem mais clima.” “Bate uma pra mim? pra não perder a viagem, sabe como é.” “Punheta é vinte.” “Porra, vinte é muito por uma punhetinha. Fecha em quinze?” Ela me olhou com um olhar azedo e disse: “Quinze, mais tem que ser rápido.” Fiquei de joelhos sobre a cama como um adolescente afoito e desci apressado o zíper da calça. O pau pulou pra fora feito um demônio enlouquecido. “Só mais uma coisinha, pode ser?” “Diz.” “Dá pra você, bom, ficar assim de quatro, e arriar só um pouquinho seu jeans pra ver sua calcinha enquanto você bate uma?” Ela estendeu sua mão direita dizendo: “Mais dez!” “Oquei.” Ficou com a mão estendida. Apanhei a carteira e dei os dez. “Por que não me dá logo os vinte e cinco?” Dei-lhe os vinte e cinco. Ela arriou uma parte do jeans até os joelhos e eu vi sua calcinha vermelha aparecer. O tecido vermelho sobre a pele negra. Uma loucura. Pôs-se de quatro e o seu enorme bundão projetou-se no teto espelhado daquele motel baleado. Uma visão esplendorosa, a daquela mulata acaboclada. Coxas poderosíssimas, bunda prepotente. A mão direita dela enlaçou meu pau e foi pressionando com frieza para cima e para baixo. Ela me olhou nos olhos com submissão. Aquilo me deu mais tesão. Olhei para sua boca enorme e carnuda. Pensei em muitas sujeiras. Em enfiar meu pau naquela boca. Em espancar aquele enorme bundão. Depois montar nela. Enfim, mostrar quem mandava ali. Enquanto ela acelerava a punheta, fiquei pensando quanto de dinheiro ainda tinha na carteira. Peguei a carteira com a direita, enfiei a mão trêmula lá dentro e alcancei uma nota de dez. Mostrei pra ela. “Um boquete, vai?” “Boquete é trinta, bebê!” “Porra, trinta? Assim tu me quebra. Paguei horrores de cerveja no Holandas, lembra não?” “Vinte e cinco e não se fala mais.” “Vinte e cinco, fechado!” Peguei a grana. “Não demora pra gozar, não, caralho!” Pegou os vinte e cinco e foi abocanhando meu pau latejante. Caralho, senti um prazer imenso. Não havia amor, não havia ternura. Melhor assim. Apenas aquela língua trabalhando o meu pau. Apertava-lhe- com a boca. E que boca. Meu pau cada vez mais duro, feito uma estaca apontada pro céu. Oh glória. Devia ser umas seis da tarde. Os sinos da Igreja Matriz. A ave Maria de Gounoud. Vai cadela! Chupa! Olhou-me furiosa. Calei-me. Prosseguiu chupando. Sua língua deu uma volta na base circular do meu pau e depois foi escalando lentamente até a cabeça dele. Brincou um pouco nela com a ponta da língua. Uma profissional, era. Tava me deixando louco. Dei o primeiro solavanco. “Não vai gozar na boca, porra!” Tentei segurar o segundo, mas ele veio. Potente. Empurrei-lhe a tempo o rosto dela para não atingir em cheio sua cara. Pingou-lhe um pouco de sêmen na testa. “Quase me acertou, seu puto!” Fiquei na mesma posição, ofegante. Mãos na cintura. As pernas tremiam. Ouvi pela primeira vez o ruído do ar condicionado velho. Era deprimente. Tudo fica deprimente depois que você goza. Pensei em Selminha. Em todas as esposas do mundo. Depois de uns anos de casado, você faz um esforço tremendo pra foder a esposa e ejacular logo. Pede pro seu pau gozar rápido. Pensa na sua vizinha ou na garota da parada de ônibus que é pra ajudar. Não há mais tesão. As relações secam. Tudo seca. Após o coito, você beija falsamente a testa de sua esposa, companheira, namorada, sei lá o quê, e depois vira sua bunda pra ela. E a vida segue.


Descemos as escadas daquele motel e paramos na porta. Olhamos a rua. Antes de se despedir, ela mordeu os lábios e me olhou com certa candura: “Podes me arranjar mais dez, que é pra, sabe, comprar o meu remédio? Estou sem remédio em casa, é por isso que tenho tido esses ataques.” Dei-lhe mais dez reais. Apertou meu queixo e tomou seu rumo. Vi aquele enorme bundão se afastando e aquela sensação escrota que tinha sido enganado. Atravessei a ruazinha e entrei no Holandas. Pedi uma cerveja, é claro. Fiquei ali no balcão tomando minha cerveja. Alguém tocava um bolero escroto num órgão. “Porra, sessenta paus! Me custou caro essa puta!” Pensei. Tomei uma golada. Naquele momento eu ainda não havia percebido uns carinhas que riam de mim no balcão. Não gosto de quem ri de mim no balcão. Balcão de bar é lugar de respeito. Me aproximei deles. “Sei lá, mas tenho a impressão que estão rindo de mim.” Se olharam. Um deles disse: “É que vimos o senhor saindo do Nacondas, com a Dagmar.” “E daí?” “Daí que o senhor provavelmente foi mais um que caiu no golpe dela.” “Que golpe?” “O mesmo que a maioria sempre cai.” Pensei no ataque epilético. “A dona é doente, porra!” “Conversa! A gente conhece aquela puta. Doente coisa nenhuma. Vigária, isso sim.” Falou este outro. É, os caras tinham razão. Todo aquele papo de epilepsia. A dona havia me engabelado. Tão boa atriz aquela filha da puta era. E aqueles dois ali. Só mais tarde é que vim descobrir que os caras ficavam ali o dia inteiro, sentados no balcão do Holandas contando o número de otários que caiam na lábia da puta. Eu era mais um. A vida tem dessas coisas. Não, não, a vida não tem dessas coisas. Eu é que fui um otário mesmo. Fingi um Ah, foda-se! Sequei a garrafa e pedi outra.
Mas e o anão, afinal de contas? Calma, senhores, chegaremos nele já, já. Antes, devo lhes falar de minha separação...


Por Marcio Santana

Márcio Santana é um degenerado. Colaborador e criador da Revista Artesanal Sirrose (é com S mesmo essa porra), mora em Manaus (Am) e não vale nada,  mas eu adoro o que ele escreve.

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